“ILHA DAS FLORES” E “SANEAMENTO BÁSICO, O FILME” RETORNAM AO CINEMA EM CÓPIAS RESTAURADAS
por Roger Lerina
Matinal Jornalismo, 29/05/2025
/ “Ilha das Flores” e “Saneamento Básico, o Filme” retornam ao cinema em cópias restauradas
Dois dos filmes mais importantes de Jorge Furtado voltam a cartaz em sessão dupla a partir desta quinta-feira (29/5) em cópias digitais restauradas em 4k pela Sessão Vitrine Petrobras. A criatividade narrativa, o olhar atento às contradições sociais brasileiras e a ironia mordaz características do diretor e roteirista estão presentes no curta Ilha das Flores (1989), vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim, e no longa Saneamento Básico, o Filme (2007).
O retorno às telas desses títulos produzidos pela Casa de Cinema de Porto Alegre é uma singular oportunidade para o público entrar em contato ainda mais com a linguagem particular de Jorge Furtado, que transita entre o documentário, a ficção e a comédia com inteligência e engajamento social e político. A volta de Ilha das Flores e Saneamento Básico, o Filme ao circuito coincide com a exibição de Virgínia e Adelaide (2024), mais recente trabalho do realizador, em parceria com a diretora Yasmin Thayná, atualmente nos cinemas.
“Virgínia e Adelaide” lança luz sobre duas pioneiras da psicanálise no Brasil
Ilha das Flores se tornou um dos filmes mais estudados e aclamados da história do cinema brasileiro. Com narração irônica do ator Paulo José e montagem fragmentada, o curta denuncia com humor ácido as desigualdades sociais e os absurdos do sistema de consumo em um registro narrativo inovador, que mescla documentário e ficção.
“O Ilha das Flores surgiu da pergunta que eu me fiz de como conseguimos chegar a ser o país mais desigual do planeta. Como é possível que o Brasil, um país rico, uma natureza exuberante e que nos dá tudo, energia, terra, alimento, enfim, chegou a ser o país mais desigual do planeta, onde muitos têm pouco e poucos têm muito. E como chegamos a esse ponto?”, questiona Furtado.
Já em Saneamento Básico, o Filme, o diretor exercita sua veia cômica de maneira popular e acessível, sem abrir mão da crítica contundente. O roteiro ⎯ também assinado por ele ⎯ acompanha os moradores de uma pequena vila de colonização italiana no sul do Brasil que, diante da falta de recursos para construir uma fossa séptica, decidem produzir um filme de ficção para captar uma verba pública destinada à produção audiovisual. A sátira certeira expõe com leveza e inventividade as burocracias e disparates da gestão pública no país.
No centro da trama está Fernanda Torres, ganhadora do Globo de Ouro de Melhor Atriz por Ainda Estou Aqui (2024), em uma de suas atuações mais carismáticas. Intérprete da protagonista Marina, a artista equilibra doçura, determinação e humor no papel da professora que lidera o projeto do filme-fossa.
Ao lado de Fernanda no filme estão Camila Pitanga, como a amiga ambiciosa e deslumbrada Silene, e Wagner Moura ⎯ vencedor do prêmio de melhor ator no recente Festival de Cannes por O Agente Secreto (2025) ⎯ no papel do marido prático e bem-humorado Joaquim. O elenco ainda conta com Lázaro Ramos, Bruno Garcia, Tonico Pereira e Paulo José.
“Saneamento Básico, ao contrário de Ilha das Flores, é uma comédia. Uma comédia que tem oito personagens vividos no filme por grandes atores. Eu desafio algum colega a um filme brasileiro com um elenco de tantos e tão bons atores como o Saneamento. E eles brilham numa comédia que fala, como toda comédia, de política”, afirma o cineasta.