
SESSÃO DE SÁBADO (08/11) EXIBE DOCE DE MÃE - UMA HOMENAGEM EMOCIONANTE À VIDA, AO ENVELHECER E À FORÇA DO AMOR FAMILIAR
por Esdras Ribeiro
Almanaque Geek, 08/11/2025 | 12:010
Na tarde de hoje, 8 de novembro, a Globo traz para a Sessão de Sábado um dos filmes mais delicados, humanos e comoventes do cinema nacional: Doce de Mãe. A produção, dirigida por Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo, é uma celebração da vida em sua fase mais madura, conduzida pela atuação brilhante de Fernanda Montenegro, que dá vida à inesquecível Dona Picucha.
A trama é leve e divertida, mas também profundamente reflexiva. Ao mesmo tempo em que desperta risadas e ternura, provoca o espectador a olhar com mais empatia para as relações familiares, o envelhecimento e o valor da liberdade - mesmo quando ela chega aos 85 anos.
Dona Picucha (Fernanda Montenegro) é uma senhora viúva de 85 anos que mora sozinha e leva a vida de forma leve, divertida e completamente fora dos padrões esperados para alguém de sua idade. Alegre, falante e sempre com um samba na ponta da língua, ela mantém uma rotina cheia de pequenas alegrias e convive há quase três décadas com sua fiel empregada e amiga Zaida (Mirna Spritzer), uma mulher paciente, dedicada e carinhosa, que há 27 anos cuida da casa e, de certa forma, também de Picucha.
Mas um dia, a vida tranquila da matriarca sofre uma reviravolta: Zaida anuncia que vai se casar e, portanto, deixar o emprego. A notícia, simples em aparência, é recebida com surpresa pelos quatro filhos de Picucha - Silvio (Marco Ricca), Elaine (Louise Cardoso), Suzana (Mariana Lima) e Fernando (Matheus Nachtergaele). Cada um deles reage de uma forma diferente, misturando preocupação, culpa e até um certo desconforto com a nova realidade que se aproxima.
Eles temem que a mãe não consiga viver sozinha, imaginando que a ausência de Zaida a deixará vulnerável e desamparada. No entanto, o que ninguém espera é que Picucha veja essa mudança como uma oportunidade - talvez a última - de experimentar uma liberdade inédita. E é a partir dessa virada que o filme transforma uma situação doméstica corriqueira em uma jornada de autodescoberta e amor próprio.
Fernanda Montenegro: um espetáculo à parte
Não há como falar de Doce de Mãe sem destacar a performance magistral de Fernanda Montenegro, uma das maiores atrizes da história da dramaturgia brasileira. Dona Picucha é, sem exagero, uma de suas personagens mais encantadoras - uma mulher que transborda humanidade, humor e sabedoria.
Fernanda consegue imprimir na personagem uma mistura rara de fragilidade e força. É impossível não se emocionar ao ver o brilho nos olhos de Picucha diante das pequenas alegrias da vida - o cheiro do café, a música que toca no rádio, o prazer de preparar um doce ou o orgulho de poder resolver as próprias coisas.
Em Doce de Mãe, a atriz não interpreta apenas uma senhora idosa; ela representa uma geração inteira de mulheres que, mesmo após uma vida inteira dedicada à família, ainda buscam um sentido próprio, um espaço de autonomia e dignidade.
O papel rendeu a Fernanda Montenegro o Emmy Internacional de Melhor Atriz, em 2013, um reconhecimento merecido e simbólico - afinal, Dona Picucha é o retrato da doçura e da vitalidade que ela mesma carrega como artista e como mulher.
Família, afeto e imperfeição
O roteiro, assinado por Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo, aborda temas universais - como o envelhecer, a solidão e as relações entre pais e filhos - com uma sensibilidade rara. A história não busca romantizar a velhice, tampouco retratar os filhos como vilões. Pelo contrário: o filme mostra como cada membro da família tenta lidar, à sua maneira, com a passagem do tempo e com o medo da perda.
Silvio (Marco Ricca) é o filho mais racional, que tenta tomar as rédeas das decisões da mãe, acreditando estar fazendo o melhor para ela. Elaine (Louise Cardoso), a primogênita, é prática e protetora, mas também sobrecarregada. Suzana (Mariana Lima) demonstra uma mistura de carinho e impaciência, e Fernando (Matheus Nachtergaele), o mais sensível, busca compreender a mãe sem julgá-la.
Essas diferenças entre os irmãos revelam o retrato autêntico de uma família comum, cheia de amor, mas também de desencontros. A presença de Picucha é o elo que os une - e o seu jeito livre, divertido e um pouco caótico faz com que todos redescubram o valor da convivência e da escuta.
Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo: direção com alma A dupla de diretores Jorge Furtado (O Homem que Copiava, Saneamento Básico - O Filme) e Ana Luiza Azevedo imprime em Doce de Mãe um olhar afetuoso e cheio de humor. O ritmo é leve, as situações são cotidianas, mas a câmera observa tudo com ternura - como se cada gesto simples carregasse um significado profundo.
O filme não se apoia em grandes reviravoltas, mas em momentos de humanidade: uma conversa sincera entre mãe e filha, uma gargalhada inesperada, um prato de doce que desperta lembranças. É nessa simplicidade que está a força da narrativa.
A direção valoriza os detalhes da rotina, o ambiente acolhedor da casa, os sons familiares e o clima de porto seguro que só um lar pode transmitir. Tudo isso compõe o cenário perfeito para que a emoção aconteça de forma orgânica, sem artifícios.
Um retrato sensível do envelhecimento
Um dos maiores méritos do longa é abordar o envelhecimento não como um fim, mas como uma nova etapa de descobertas. Dona Picucha não é retratada como uma pessoa dependente, triste ou isolada, mas como alguém que ainda tem muito a viver e ensinar.
Ela desafia o estereótipo da “velhinha frágil” e prova que envelhecer também pode significar reinventar-se. Sua relação com a música, com a comida e com as pessoas ao redor é uma forma de afirmar a própria existência e manter acesa a chama da curiosidade.
Doce de Mãe mostra, com delicadeza, que a idade não é um limite - é uma bagagem. E que o verdadeiro sentido da vida pode estar nas pequenas alegrias que resistem ao tempo.
Além de Fernanda Montenegro, o elenco reúne grandes nomes do cinema e da televisão brasileira. Marco Ricca, Louise Cardoso, Mariana Lima, Matheus Nachtergaele e Daniel de Oliveira interpretam com naturalidade e empatia seus papéis, contribuindo para a atmosfera realista e calorosa do filme.
