A tragédia gaúcha

O Brasil sempre tratou mal a sua natureza, devastando florestas, ferindo encostas, fechando o caminho das águas, queimando matas, carvão, petróleo. A natureza nem sabe de nós, minúsculos humanos, que, ao contrário de todos os outros seres vivos, lhe fazemos tanto mal. A natureza não tem rancores, não quer vingança, a natureza apenas é, e ponto. A floresta devastada é o calor escaldante. A encosta ferida é o deslizamento que mata. A água que não tem para onde ir é o alagamento que destrói casas. As matas, o carvão e o petróleo queimados são as chuvas torrenciais que levam vidas em seu caminho.

Tragédias climáticas - secas, enchentes, deslizamentos, calor extremo - são notícias comuns, mas há algo de inteiramente novo na tragédia gaúcha, algo que a imprensa, por melhor que faça o seu trabalho, não pode mostrar, que quem não está aqui não pode entender: o tamanho da dor. O número de mortos e desaparecidos é grande, terrível, mas se compara a muitos dos nossos desastres, mas o número de desabrigados, de desalojados, de famílias que perderam tudo ou quase tudo, é gigantesco, inédito, impensável. Mais de meio milhão de pessoas tiveram suas vidas arrastadas pelas águas. Muitas não têm para onde voltar. Pense na população de cidades do tamanho de Niterói, Santos, Juiz de Fora ou Feira de Santana, mais de meio milhão de pessoas que, num dia, perderam tudo que tinham, as memórias e conquistas de uma vida, e agora não tem para onde ir, nem o que vestir, nem o que comer, nem onde tomar banho, onde dormir. É muita dor, de muita gente.

Junto com a tragédia impensável surgiu uma rede comovente de solidariedade e afeto. Milhares de voluntários se juntam, dias e noites, aos bombeiros, marinheiros, soldados, funcionários públicos, de todas as idades, credos e profissões, para salvar vidas. “Seus ombros suportam o mundo”. Mas o número de flagelados não para de crescer, e a chuva continua, e amanhã será o pior dia, até agora.

Há muitos pedidos de ajuda, de doações, todos são importantes, urgentes, e este é mais um. O #342Artes mobilizou sua rede de artistas, comunicadores, amigos, para arrecadar dinheiro para os trabalhadores da cultura, a tribo do cinema, do teatro, da música, artistas e técnicos que perderam tudo, ou quase tudo. Muitos não têm para onde voltar e não têm ideia de quando terão trabalho outra vez. Toda esta gente, “que empresta aos sonhos habitação terrestre e um nome”, precisa sobreviver e reconstruir suas vidas. Ajude como puder.

Jorge Furtado, Porto Alegre, 13 de maio de 2024, 7:58 (chove)


#342Artes Vakinha para os trabalhadores da cultura no Rio Grande do Sul:

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Quem quiser contribuir diretamente com os trabalhadores do audiovisual:

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